domingo, 10 de janeiro de 2010

ERA UMA VEZ...Parte III (A Luz e a Mariposa)


"Não adianta correr, minha criança, eu vou te encontrar e verás que reservo para ti o mais doce dos aromas..." Disse o Senhor Destino, rindo-se da pobre Claire que corria porta a fora, fugindo do...da Biblioteca.

Borboleta variegada? Rosa no jardim? Não!
Claire não sentia-se mais como nenhuma delas...Ela não era única, nem especial, nem rara. Era COMUM.
Apenas uma alucinação, uma alucinação...Ela repetia a si mesma enquanto chegava até o ônibus escolar - seu salvador amarelo e antigo no momento - ela nunca ficou tão feliz ao ver o motorista rabujento - sr. Dannis - olhando para ela como se estivesse sentindo raiva do mundo (por que estes caras existem e dirigem para adolescentes? Temos direito a um adulto mais amistoso, nossa vida já é caótica o suficiente, não acham?)
Meu príncipe no cavalo branco agora personificou-se em um ônibus velho e o velho sr Dannis?! Que calamidade!
Claire entrou e sentou-se no primeiro lugar vazio que encontrou.
Borboleta...Humpf.
Quem sou eu para ser uma borboleta, ainda mais dourada e rara - Claire pensava e isso martelava em sua cabeça, assim como a visão dele e o olhar de "Ela está bem ou surtou?" que ele tinha no rosto antes dela sair correndo (feito louca) pela porta da biblioteca...
E, ele nem procurava uma "borboleta dourada! Ele queria A BORBOLETA COLORIDA e que podia voar! Sua tonta!
Por que eles sempre querem o que está longe, o mais complicado e chato quando poderiam ter algo tão...
O sacolejar do ônibus deixava a nossa pobre garota com o estômago embrulhado, mesmo ela não tendo lanchado - ela não lanchava há exatas 3 semanas (alguma relação causa-feito com nosso amigo misterioso? Hum...A paixão tira o apetite? Nossa! Preciso me apaixonar, logoooo! rsrsrs).
Definitivamente, pensando e agindo como naquela manhã, fugindo por um medo fictício de que aquele sentimento pudesse causar-lhe dor, tomar-lhe o coração machucado e remendado (como se fosse possível sentir mais dor do que ela havia sentido naquele inverno!), Claire não parecia mesmo com uma borboleta dourada, ela...
Ela estava mais para uma MARIPOSA.
Sim. Um inseto notívago, que de tantos tons de cinza e marrom presentes em sua existência não consegue mais acreditar no seu brilho próprio, e parte buscando desesperadamente uma LUZ.
A LUZ...Aquele garoto e suas palavras doces, sua atenção estranha porém já desejada e tão reconfortante eram como a luz que atraía Claire todas as noites...
Vive na noite e por não conhecer o SOL, o dia, a esperança e a possibilidade, vive a voar, a chocar-se contra paredes falsas e ilusórias e a perseguir uma falsa energia e brilho.
Voa desesperada e não sabe que o que vê ao longe e que parece ser a sua tão almejada LUZ, não passa de uma armadilha vil e mesquinha.
Mas, ela precisa da LUZ, ela queria sentir esta LUZ e no seu vôo rápido e estabanado, não nota que chegar até a luz e tocá-la será seu fim, é como uma busca suicida!
(Calma, o que mariposas e luz tem a ver com a Claire fugindo da atração pelo seu novo "amiguinho"?? Relaxem, chegaremos lá...).
Nossa pobre garotinha chega finalmente em casa, depois de passar a viagem inteira sacudindo no velho ônibus - agora agradecia por sua mãe ter insistido para que ela tivesse transporte escolar - sobe correndo para seu esconderijo particular, seu quarto (já que a Biblioteca era um esconderijo público e onde seu "amigo vampiro" sempre ia atrás dela no intervalo...Opa! VAMPIRO? Eu sei, eu sei que prometi não colocar um vampiro no meio disso, mas, é só uma inofensiva metáfora, tá? Por favor, não resisto! rsrsrs).
Claire sentou-se na cama e começou a lembrar da aflição que viveu uma hora atrás...Ela sentanda ao lado dele, Rei Lear (Shakespeare é....so, so Shakespeare!) na mão...Borboletas variegadas, rosas, jardineiro. Jardineiro.
E as mariposas?
Claire lembrou-se das "primas menos favorecidas" e injustamente renegadas que as borboletas têm...
Sim. Elas eram como Claire. Estranhas, diferentes...Tinham tudo para serem belas e admiradas como as borboletas, mas faltava alguma coisa...
Cor? Ou faltaria um jardineiro que pudesse VER além do cinza e do marrom? Hum...
Vê-las através da casca, da aparência, do que havia entre eles? O jardineiro VENDO sua mariposa.
Não mais a buscar uma borboleta multicor, mas conseguindo entender que, por trás daquela cerca que o separava das rosas, da sua tão desejada borboleta, existia uma mariposa a esperar, a sonhar...
Sonhar apenas com uma luz que não fosse falsa, que não fosse uma armadilha que só desejava atraí-la, ganhá-la e possuí-la por um instante, até que um monstro (um lagarto predador, um inseto maior) viesse para devorá-la.
Ela, a nossa mariposa sem graça e indiferente em sua camuflagem ,agora tão frágil, tão desprotegida ao ser levada até aquela luz...Seria a última vez que a mariposa acreditava, que tinha esperança.
Aquilo não passava de uma ilusão, mais uma...Com a finalidade de fazer cumprir a cadeia alimentar.
Mariposa-luz-predador.
Ah! Sim...Elas não possuiam muita cor, e eram suicidas.
Suicidas...
Prefiro ingênuas e sonhadoras! Ora! Elas têm direito a sonhar com o SOL...
É...as mariposas sonham com a luz e voam para uma armadilha...Encontram um sinal de luz e seguem sem pensar direto para um engodo.
A vontade de ser feliz, de brilhar e aquecer-se no sol é tamanha que ela nem raciocina, coitada!
Voa, chega até seu tão sonhado SOL (que não passa de uma lâmpada vagabunda acesa em alguma casa), um sol artificial e perigoso.
Por que isso?! Até as mariposas merecem ter direito de sonhar, ou não?
Infelizmente, nem sempre a frase "O sol nasce para todos" é verdadeira - pelo menos não para as mariposas - não para Claire!
Se ela se deixasse atrair, cativar e mergulhar nos olhos profundos daquele menino, seria como uma mariposa deslumbrada pela luz artificial e falsa de uma lâmpada.
Não que ele fosse um marginal, um tarado, nem era o estilo "bad boy". Mas...
Claire sabia! Ele não sentia o mesmo...Não podia ser...
Era tudo tão novo, tão recente...Ele amava outra há pouco, ele sofria por outra menina (uma borboleta, URGH! Que ódio! Nada contra borboletas, só contra AQUELA) e Claire sabia disso.
Ele poderia esquecer tão rapidamente? Quanto tempo leva um coração para parar de chorar?
Quanto tempo levaria um jardineiro para esquecer sua rosa mais desejada e cultivada no calor do seu coração?
E se a borboleta que ele queria fosse nada mais que uma lagarta? E se a verdadeira rosa, ou botão perfumado e intocado fosse aquela pobre garota com o coração partido?
A mariposa sem graça, marron...Mas que, quando o sol - se um milagre acontecesse e ela visse o SOL, se o sol pudesse tocar suas asas - não se veria mais a escurdião, o sofrimento e a dor, veria-se um arco-íris, como uma marca d'água escondida, um brilho ofuscante, desconcertante e inesperado em meio às cores do antigo disfarce!
Só para ELE. Só ele a veria como um todo.
Sem disfarces, sem rodeios, sem MEDO.
O celular vibrou na mão dela.
Era ELE! O visor rachado - o celular havia sofrido um traumatismo craniano - gritava.
O que fazer agora?
Claire sabia que ele perguntaria, interrogaria, afinal, ela saiu feito vampiro fugindo do sol (É, eu gosto mesmo de vampiros e daí? rsrsrs) ela agiu como louca e sabia que ele tinha direito de perguntar "O que eu fiz ou falei de errado?" "Você esqueceu de tomar seu remédio para loucura hoje?"....Qualquer pergunta seria natural diante do que ela fez, sme nem olhar para trás, correu.
AFFFFFFFFFF. Atenda, logo! Aquela voz sensata e salvadora que fazia o favor de não desistir dela - um caso perdido - veio fazê-la acordar.
- Alô............................
- Nossa, vc teve um treco ou o que? Você saiu com tanta pressa...O que foi? Ah! Seu livro, o que estávamos lendo, você deixou comigo. - Ele falou descontraído.
- Eu...eu, estava atrasada para pegar o ônibus escolar...
- Claire! O ônibus sai a cada hora e eu podia te dar uma carona. - Risadas do outro lado da linha (ain! que mancada)
Olha, tenho que desligar, outra ligação...
O que??? Ele....Ele desligou porque recebeu outra ligação? Claire não conseguia esconder as marcas da decepção...Devia ser ela....a tal "borboleta colorida" que ele tanto queria e amava....
Ela não esperava que ele ligasse, não esperava NADA dele! Ela nem pediu que ele fosse seu amigo, que a ouvisse, que a cativasse! Ela não pediu nada disso!
Ela não queria gaguejar ao explicar que era uma idiota e que estava com medo, medo se sentir, de se apaixonar pelo garoto mais popular do lugar ( que certamente não era um "santo", os santinhos não são populares, todo mundo sabe disso, é a regra social e brutal das escolas...DERRRRR) , medo de ser perseguida (quem sabe até afogada) pelas garotas populares que o queriam...
Ela não pensou nisso, não pediu por aquilo ela....Ela....
Claire sentiu uma lágrima solitária como ela umedecer a face esquerda do seu rosto alvo como uma nuvem...
Ela só queria ser amada.
E ele? O que ele queria?
Ela era só parte de um plano para que ele esquecesse sua eleita? Sua borboleta dissimulada e egoísta ou ele podia ver as cores por trás da armadura da mariposa?
Ele podia sentir que aquele coração se segurava para não pulsar demais a ponto dele ouvir e fugir?
Todos sempre fogem... - Pensou Claire.
Uma hora ou outra, eles fogem..Sem dizer adeus, sem olhar para trás. Deixam a exótica, forte e atraente mariposa da noite para partir em busca de uma borboleta e suas cores ilusórias que prometem amor, diversão e fascínio.
E a mariposa?? (Quer saber o que acontece com ela?)
Ela volta a ser solitária, a vagar triste, sem cor e sem SOL...Sempre procurando uma luz artificial.

Não! Não quero mais ser a mariposa, não quero mais falsas luzes e promessas! Eu quero sentir, eu quero ter o que tive no inverno passado! Quero sentir e ter tudo que mereço, nem que para isso eu tenha que voltar ao meu casulo, voltar a ser apenas uma larva e renascer.
Não mais terei medo de voar, de buscar e desejar! Eu o quero, quero para mim e comigo, não importa quantas borboletas já iludiu, quantas são tuas armadilhas e planos...Amanhã o encontrarei no colégio e não vou fugir, não mais!!
- Claire repetiu para si mesma enquanto enxugava as lágrimas que agora desciam desgovernadas.

Mas, caso o jardineiro, caso aquele garoto cheio de luz (Ele agora era como a luz para ela), caso ele a magoasse...Ela sobreviveria?

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