domingo, 13 de junho de 2010
"Senti, pela primeira vez, que eu tinha alguém reservado para mim, aquele que pensei ser o que me dominaria e representaria perigo...Eu que sempre fui fria e indomável, parecia presa naquele abraço encantado, eternamente...".
Oito séculos mais tarde.....
A existência seguiu seu curso natural. Milah morreu e ressurgiu mil vezes a cada eclipse; sim, ela sobreviveu depois daquele crepúsculo...depois de ver Zíon retornar ao espaço, seu lar. Ele era uma estrela, um ser diferente, único e que jamais pertenceu ao mundo dela...agora ela sabia disso. E apenas ela conhecia esta verdade, guardou aquela visão mágica e ao mesmo tempo terrível com ela por um ciclo de oito séculos.
Porém, ser atingida pelos raios dele, pela luz e mistério modificaram a estrutura física e psíquica dela, para sempre. Mudanças jamais vistas em Angle ocorreram - Milhah tornou-se ainda mais poderosa e má. Não havia mais nada no deserto em que se transformou seu negro coração de bruxa.
Depois de alguns dias após Zíon ascender ao universo, Milah senti-se estranha, uma guardiã sentiu o amor pela primeira vez em toda a existência; um paradigma quebrado trazia sempre desequilíbrio ao estado de suspensão da magia, ao plano paralelo que era aquele mundo. Tudo mudou! A interação e ações de Milah tornaram-se obscuras, confusas e ainda mais insesíveis.
Como uma cicatriz, o coração dela endureceu ainda mais num misto de dor, ódio e desespero para eliminar a dor de amar e ser deixada.
Ela destruiu as imagens e lembranças e apenas cultivou a razão. Uma razão distorcida e forte. O conselho também mudou e tentou controlar e dominar a força extrema e perigosa que eles percebiam crescer no seio dela - tentaram prende-la por medo do que ela poderia fazer. Contudo eles não sabiam os novos "limites" dos dons dela. Ela agora não só era racional e tinah percepção aguçada, o MAL cresceu e lhe concedeu o domínio de algo até então negado a ela - a magia.
Era tarde para ela e para todos em Angle - ao sentir que o conselho, os anciões tramavam captura-la e neutraliza-la - Milah foi mais rápida. Em duas semanas Angle foi varrida da face da Terra Mágica, da Ilha Suspensa. Não apenas pelas mãos dela; o conselho seguiu o seu plano e tentou aprisioná-la no 'Mundo Inferior', entregá-la a Hades - o senhor das profundezas. Lendo as mentes, vislumbrando todo o maléfico plano, Milah não pensou muito...voltou-se contra os seus e varreu Angle do mapa - não as paredes, castelos, casas e templos - ela destruiu o órgão central - matou cada membro do conselho - o que destruiu todos os seres, numa reação em cadeia!
Estava feito. Angle não existia mais.
Milah passou a existir solitária, mais do que jamais imaginou. Ela apenas interagia com o restante dos seres mitológicos que habitavam a Ilha Suspensa.
Seis séculos passaram...Imutavelmente.
Então....Algo assustador e impossível aconteceu na Ilha Suspensa, aconteceu á Milah. Como um castigo, após toda a dor e destruição, Milah acordou em uma madrugada e...Ela não sentia mais seus dons - ela sentia-se...HUMANA!
Como uma maldição ou punição, o equilíbrio deveria ser mantido, e Milah fora castigada - tornara-se humana. Tudo que ela havia sufocado por séculos, voltara com amis força! Dor, medo, solidão, frio, sede, fome...desespero!
Era como se ela fosse feita de metal forjado e agora o metal dissolvera-se...expondo uma pele translúcida, macia, alva e indefesa.
Milah tornara-se vulnerável e humana.
Não apenas sentia as necessidades e malezas de um corpo hunamo mas também seus anseios, dúvidas e instintos.
Não haveria mais como ser imortal e resistir a tudo e todo o medo, inclusive o medo da solidão que acompanha todo mortal. Tudo lhe fora tirado, porém...Uma coisa restava, ela não perdeu sua capacidade de lutar. Milah era, antes de tudo, uma lutadora, uma guerreira em essência. Não sabia o significado de entregar-se ao Destino sem lutar. Ela era forte, ainda que despedaçada. Então, traçou em sua mente maneiras de sobreviver a tudo aquilo.
E, a única resposta era....Deixando-se levar pelo destino, pelo que ELE queria dela.
O que pode ser mais mortal que o AMOR?
Sim! Era uma das lições que ela teria de aprender. O Destino assim queria. Era isso que esperava por ela...
Uma noite, Milah estava em meio a floresta olhando o céu e observando a Estrela que ela sabia ser a imagem de Zíon, como ela fazia de maneira compulsiva e doentia desde que ele subiu ao céu, sumindo.
Ela ficava deitada em meio às samambaias selvagens e úmidas, olhando o céu. Mas naquela noite haveria companhia...
Depois de horas observando o desenho e brilho da SUA estrela, um silvo fino pareceu correr como uma serpente atrás de umas árvores escuras. O olhar rápido e assustado dela correu a mata tentando identificar o animal que provavelmente a atacaria! NADA.
Então, numa atitude bem característica dela, Milah gritou alto: Apareça, seja lá o que for!
Um vulto fez o mato se mexer suavemente, Milah seguiu a trilha do movimento das samambaias com o olhar desesperado de pavor! Então, o ar se deslocou atrás dela, em sua nuca e uma voz estranha rompeu a noite silenciosa;
- Olá, menina...- Milah pulou para frente e olhou instantaneamente para trás ao mesmo tempo querendo correr mas sabendo que seria inútil, o que quer que fosse, se a quizesse morta, conseguiria...Ele aproximou-se e nada disse mais....só o que sentiu foi a mistura de sede e desejo que ele emanava....
Nos braços dele - um ano depois - Milah sorria ao relembrar aquele encontro...
Um VAMPIRO.
- Não imagina que vocês existissem de fato, aqui na Terra Mágica...tantas lendas...rsrsrs - Ela sorria deitada nos braços dele.
- Não nos revelamos, a não ser para saciar a sede, matar nossas vítimas ou...escolher uma companheira.
Aquela noite, o Destino - senhor de tudo como um deus mitológico - decidiu que Milah havia sangrado e sofrido o suficiente, como mortal. Assim, ELE enviou um ser que mudaria tudo, devolveria à ela a imortalidade em outra condição, fria e eterna.
O vampiro elegante, reservado e frio como a lâmina de uma adaga fora levado a buscar por uma companheira, como um "passe de mágica", ele sentiu que deveria encontrar uma amada imortal e deixar a existência solitária (nada mais que pura manipulação feita pelo Destino, como em um tabuleiro de xadez).
...Naquela noite na floresta, ele a tomou em seus braços e a fez dele. Porém, isso a mataria certamente, então, após saciar sua sede carnal, ele a mordeu e bebeu dela para si...saciando sua sede pelo sangue dela, ao máximo...depois mordeu o próprio punho e a fez beber dele...ele não a queria morta, queria para ele.
Surgia um novo ser. Onde havia uma bruxa, que castigada tornou-se mortal para sofrer por seus pecados em amar, fez-se uma vampira!
Ela não possuía qualquer controle sobre seu destino, ele fora traçado à revelia, incontrolável, imprevisível. Ela só deseja SOBREVIVER. Este era seu instinto básico e imutável, desde guardiã.
Agora ela era imortal novamente e com novos e estranhos dons. E, ao olhar para o seu lado, havia aquela visão quase impossível, um ser que a desejava de maneira imortal.
Parecia cruel se não fosse fascinante. Antes não poder amar e sentir e, assim, também não sofrer. Agora....sentir cada toque com todos os seus póros, desenhados para captar cada partícula, cada modificação do ambiente, sentidos aguçados como uma fera, predadora.
Ele a escolheu entre tantas possibilidades impossíveis. Prováveis armadilhas do Destino - sempre irônico em seu humor ácido.
Um ano.
Descobertas...ela jamais imaginou que aquilo que seus novos e potentes olhos viam existisse de fato.
O amor existia. Podia ser uma forma de amor diferente, estranha, condenável aos olhos humanos, mas ele existia e ela podia senti-lo. Não era mais a guardiã condenada a não provar daqueles sabores...
Parecia que a nova vampira estava, enfim, segura e curada de todas as dores, medos...feridas profundas.
O 'buraco' em seu peito havia finalmente cicatrizado e desaparecido?!
Em uma madrugada, Milah saiu sem seu companheiro...ela sentiu sede e resolveu caçar sozinha. Como sempre, forças ocultas nos levam por caminhos e decisões insondáveis...
Estava na Floresta - velha conhecida de tantas e tantas noites - quando....
Um clarão e uma explosão cruzaram os céus!
Milah correu e escondeu-se dentro de uma caverna. Observando tudo quieta e preparada para MATAR OU MORRER.
Aquilo não poderia ser nada bom...Foi então...que ela notou que a radiação luminosa intensa se aproximava, indo ao seu encontro!
O corpo dela tremeu, como se fosse humano outra vez! Todo seu corpo, suas mãos e seus lábios tremiam...
Ela entrou mais na caverna. Porém a luz a seguiu.
Quando não aguentava mais de expectativa, Milah - provando sua impulsividade peculiar - se lançou contra a luz, num ato de mais puro desespero! O corpo magro, alvo como a luz da lua dela lançou-se ao ar, em direção à ameaça.
Matar ou morrer - ela pensou.
Em pleno vôo da vampira, braços ergueram-se do centro dos raios de luz néon e a seguraram, puxando seu corpo para o interior da zona de luz, com força e autoridade.
Milah sentiu o 'travar' em pleno pulo e o pânico agora era insuportável. Ela seria destruída por algo desconhecido e ninguém saberia, seu companheiro nada poderia fazer para ajuda-la, ela estava só!
Em segundos que pareceram voar fantasmagoricamente...ou se arrastar como as areias de uma duna...os braços a capturaram e levaram para perto - DELE.
Milah sentiu sua consciência apagando-se como a chama de uma vela ao se extinguir...a última lembrança era de tocar as mãos em um peito forte, sentindo-se aprisionar completamente. E que...no auge do pavor, um sentimento de serenidade a invadiu, vindo da "coisa" que a pegava e prendia.
O que era aquilo?!
Ao despertar, viu-se em um lugar diferente mas....ao olhar melhor ao redor, pareciam ruínas de um lugar familiar...
Não!
- Um grito de fúria e dor saiu do peito dela - ao reconhecer Angle!
Seus olhos buscaram alguma resposta em volta, correndo cada móvel e ruína como se estivessem famintos para enxergar que era um pesadelo, ou sonho! Uma vertigem a cegou por alguns minutos...ela se debatia contra alguma coisa...
Uma mão forte, quente como metal derretido, cheia de cicatrizes, tocou a face dela, levemente, indo aos seus cabelos claros e arredios...como se estivesse sentindo a maciez, recordando o aroma e textura...como se recordasse o gosto...o cheiro...
Os olhos lacrimejantes dela, tentaram focar na figura sentada à beira da cama onde ela estava deitada - mas negaram-se a reconhecer a face ali, os olhos azúis e brilhantes de mistério...que a olhavam com uma expressão de insanidade e saudade: Zíon.
Ele havia regressado, impossivelmente, assustadoramente, arrebatadamente sem que mudasse absolutamente nada.
Com a voz embargada, ela apenas disse:
- O que faz aqui...? - Um aperto em sua garganta obstruiu o resto das palavras...(Medo e confusão mental).
Ele continuou calado, olhando para ela como se desejasse tragar sua mente e evoluir mil anos em um segundo. Um arrepio infernal percorreu a pele das costas dela...
- Por que...
Ele a interrompeu.
- Todas as suas perguntas serão sanadas, assim que se acalmar e recuperar-se da radiação...do que ela fez sobre você quando nos encontramos...Lhe explicarei tudo que desejar saber, Milah.
Ela sentia-se...completamente desorientada. Era realmente ele, diante dela depois de séculos?!
----Continua -----
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